CHINA X TAIWAN - Continente x província rebelde
- Demetrius Silva Matos
- 10 de ago. de 2022
- 3 min de leitura
Atualizado: 11 de ago. de 2022

Você sabe como começou a longa disputa entre a China e Taiwan e a insistência chinesa de que a ilha é parte de seu território?
Tudo começou na década de 1920, quando a China esteve em uma guerra civil entre as forças de Chiang Kai-shel, de orientação nacionalista-capitalista e que controlava as grandes cidades chinesas, e as de Mao Tsé-tung, de orientação socialista e que possuía sua maior força nas regiões rurais chinesas.
A Guerra Civil entre os dois foi brutalmente interrompida com a invasão japonesa na China em 1931, o que levou os dois inimigos a realizarem uma união temporária para expulsar os japoneses de seu país. Essa “união” foi oficialmente rompida em 1945 com a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial, que apesar de ter levado a “paz ao mundo”, por outro lado fez com que a Guerra Civil fosse retomada na China.
Na década de 40, a esmagadora maioria da população chinesa habitava as zonas rurais controladas por Mao Tsé-tung, e essa vantagem numérica conferiu superioridade sobre seu rival Chiang Kai-shel, cujas forças leais estavam cada vez mais e mais isoladas nas grandes cidades.
No final de 1949, levando em conta a inevitável conquista de Pequim pelas tropas socialistas, Chiang Kai-shel reuniu o que sobrou de seus aliados, e juntamente com a alta burguesia da China deixaram o País e foram se refugiar na então Ilha de Formosa (atual Taiwan), uma ilha chinesa, conquistada pelo Japão no século XIX, que a transformou em colônia. Quatro anos após o fim da segunda guerra mundial, que marcou a derrota do Japão, a ilha foi restituída à autoridade chinesa.
Com a China continental sobre seu controle, Mao Tsé-tung proclamou a criação da República Popular da China, que não foi reconhecida pelos EUA e seus aliados devido ao seu caráter socialista. Em seu lugar, o dito “ocidente”, bem como a recém-criada ONU, reconheceram a República Nacional da China (Taiwan) liderada por Chiang Kai-shel, como a única verdadeira representante do povo chinês.
Essa situação perdurou até os anos 70, quando o Presidente do EUA Richard Nixon, por meio de uma ampla negociação diplomática realizado por seu grande Secretário de Estado Henry Kissinger que levou ao reconhecimento da República Popular da China como legítima, e, consequentemente, levou os EUA e todos os seus aliados a não mais reconhecerem Taiwan como um Estado independente.
A própria ONU expulsou Taiwan de seu sistema para que a China que conhecemos fosse aceita.
Um dos termos da negociação de Kissinger era o Princípio de “Uma só China”, segundo o qual nenhum País pode reconhecer a China e Taiwan ao mesmo tempo como Estados Independentes, já que a China continental sempre se referiu a Taiwan como uma província rebelde que cedo ou tarde seria reintegrada a China.
Esse princípio, somado à crescente influência da China em todo mundo, levou com que quase nenhum País reconhecesse Taiwan como Estado independente, e os poucos que ainda o fazem ou são Estados insulares do Pacífico (limitados tanto em tamanho quanto em influência) ou países com menor área de influência geopolítica no Globo (para que tenham uma ideia, atualmente o maior País que reconhece Taiwan é o Paraguai).
Apesar dos EUA realizarem “pequenas trapaças” ao princípio de uma só China, no intuito de demonstrar seu apoio a Taiwan contra a China (como exemplo, a recente visita de Nancy Pelosi, Presidente da Câmara de Deputados dos EUA, à Ilha), nenhum reconhecimento formal pode vir de parte dos EUA, sem desencadear graves consequências, como os riscos concretos de invasão militar à Ilha por parte da China.
Por esse histórico de tensão, qualquer país, ao manter contatos com Taiwan, é interpretado como um ataque à própria China.

Por DEMETRIUS SILVA MATOS
Advogado OAB/MA
Pós Graduado em Ciências Políticas pela Uninter
Autor do livro: "Direito na Ditadura - o uso das leis e do direito durante a ditadura militar"
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