BLOCKCHAIN: masculino ou feminino?
- Flávia Valéria
- 13 de nov. de 2022
- 3 min de leitura

Para começo de conversa, reputo ao menos intrigante dizer que existe uma disputa linguística, ainda não definida, em torno do termo Blockchain, em questão de gênero, para saber se é um substantivo masculino ou feminino, tendo a academia preferido, em seus artigos, o gênero masculino, chamando de O BLOCKCHAIN.
A infopédia registra que seria masculino:
Blockchain (blɔkˈʃɐj̃) nome masculino
"sistema eletrônico que possibilita a realização, o registo e a validação de transações em criptomoeda em base de dados não centralizada, através da utilização de fórmulas de encriptação algorítmica de dados". Do inglês, a partir de block, «bloco»+chain, «cadeia». (Porto Editora – blockchain no Dicionário infopédia da Língua Portuguesa [em linha]. Porto: Porto Editora. [consult. 2022-11-12 14:10:58]. Disponível em https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/blockchain
Bom, considerando a predominância de homens, tanto no mercado cripto quanto no desenvolvimento da tecnologia por trás desse mercado, não é estranho que tenham identificado o termo como masculino. Por isso dá uma vontade de usar A BLOCKCHAIN. Não por um extremismo feminino, mas para lembrar que existem mulheres nesse mercado e que precisam sair da invisibilidade, como em diversos outros setores da sociedade. Na tecnologia, a ausência feminina é ainda maior.
Essa questão semântica na tecnologia, não ocorre apenas quanto ao gênero, mas também na dominância de palavras criadas a partir dos países desenvolvedores, que em razão de suas pesquisas, estabelecem os nomes para suas invenções.
Por isso, não é comum termos tecnológicos cunhados em língua portuguesa, uma vez que os países desse idioma não estão na corrida tecnológica e nem apresentam inovações significativas no setor a ponto de ter direito a definir o nome.
Com isso ocorrem as traduções de termos, muito comum no universo cripto, como “deploiar” (deployed), “mintar” (to mint)...
Fica horrível por vezes, em questão sonora, mas o jeito brasileiro de absorver os estrangeirismos leva a isso.
As preocupações com os vieses de programação da inteligência artificial abordei em post específico (INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL – VIÉS ALGORÍTMICO), e nele chamei a atenção para os riscos da ausência de etnias diversas, povos diversos e representantes de gêneros diversos nas equipes de programação das grandes empresas desenvolvedoras da inteligência artificial. Sim, as mulheres, também não são a maioria.
O ponto que levanto nesse post, muito mais do que definir se antes da palavra BLOCKCHAIN deve se aposto o artigo O ou A, é levantar o debate sobre a inserção de diferentes olhares no mundo tecnológico, a partir da inclusão de diversos grupos.
Sim, as palavras importam. Elas são a expressão da linguagem, e a linguagem é a forma de expressão de um povo. Quem conhece a língua italiana sabe que a ênfase na construção de frases é dada no objeto e não no sujeito, lembrando que o direito romano, com suas normas de direito civil, baseada na propriedade, moldaram o pensamento jurídico do civil law (posteriormente desenvolvido pelos códigos napoleônicos, mas isso é assunto para o aconteceu na história...). Essa orientação perdura até hoje pela linguagem que aponta para aquela sociedade, e os produtos culturais por ela produzidos, que o mais importante é o objeto (propriedade).
A linguagem importa e reflete códigos de um povo, sociedade, nação.
Mas do que nunca é importante garantir nesse ponto de mutação da sociedade a inclusão de diversos olhares e perspectivas e o prisma de gênero.
Não se assustem se a despeito do uso masculino majoritário nos artigos da academia sobre BLOCKCHAIN, vez por outra verem nos meus artigos e post, A BLOCKCHAIN. Ato de rebeldia ou feminismo? Não, apenas uma tentativa de lembrar às mentes a necessidade de inclusão das mulheres nas grandes decisões sociais e da tecnologia, que esse tempo disruptivo exige.
Até a próxima.
(Para saber um pouco mais sobre BLOCKCHAIN, sugiro a leitura do post TECNOLOGIA BLOCKCHAIN.)

Flávia Valéria Nava Silva
Certificada pela Unic em digital currencies.
Mestranda em Blockchain e Criptocurrencies pela University of Nicosia (Unic) pelo departamento Institute for the future.
Pós-graduada em Direitos Difusos, Coletivos e Gestão fiscal pela ESMP/MPMA.
Pós-graduanda em Neurociência, psicologia positiva e mindfulness pela PUC-PR
Promotora de Justiça no Estado do Maranhão.
Pesquisadora em inovação, futuros, direito e cidadania digital.
Coordenadora do Projeto de pesquisa da ESMP-MPMA MP Trends
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